O que muda quando sua paciente muda o jeito de se observar?
A técnica silenciosa que transforma a clínica sem você perceber

“Eu sigo todas as etapas. Mas parece que nada muda.”

Talvez essa seja uma das frases mais silenciosas da sua semana. Ela não foi dita em voz alta, mas ecoou enquanto você fechava o prontuário. Depois de mais uma sessão onde a paciente entende tudo, concorda com tudo... mas volta igual. O que está faltando não é mais teoria. E não é sua dedicação. Pode ser que esteja faltando o ponto mais simples — e mais sofisticado — da Terapia Cognitiva: o automonitoramento.

A ausência que trava: quando a paciente vive sem se enxergar

Você já deve ter vivido isso: paciente que fala com lucidez, mas age no piloto automático. Que verbaliza bem, mas repete padrões como se estivesse dentro de um quarto escuro.

Essa desconexão entre o que ela diz e o que ela faz não é só resistência. É falta de um radar interno funcionando. Sem automonitoramento, a terapia vira uma conversa tecnicamente correta, mas clinicamente estéril.

E a dor é sua também: você está se esforçando, mas não sente progresso concreto. A sessão termina, mas você ainda carrega a dúvida: "será que eu consegui realmente ajudar?"

O que é automonitoramento (e por que ele é muito mais do que um "exercício")

O automonitoramento não é uma técnica no papel. É uma prática clínica de tornar visível aquilo que é vivido no escuro. Na linguagem da TCC, significa treinar o paciente a observar, nomear e registrar o próprio funcionamento cognitivo e emocional — enquanto ele acontece. Imagine um paciente que consegue ouvir o próprio pensamento disfuncional como quem escuta um barulho incômodo num carro: ele aprende a reconhecer quando algo está fora de eixo.
Esse treino muda tudo. O que antes era reativo, vira consciente. O que antes era invisível, vira rastreável. O que antes parecia "falta de esforço", revela-se falta de repertório.

Por que isso ainda não acontece na sua clínica?

Essa é uma das perguntas mais importantes para se fazer agora. Porque se você já conhece o conceito, já ouviu falar do RPD, já viu planilhas de registro... por que ainda não está usando tudo isso com confiança? Talvez porque ninguém te ensinou que você não precisa aplicar tudo de uma vez. Talvez porque você mesma nunca teve a experiência real de se automonitorar. Ou talvez porque, no fundo, você ache que essa é uma etapa "menor" no plano terapêutico.

Mas ela é a base. Sem automonitoramento, não há metacognição. Sem metacognição, não há reestruturação. Sem reestruturação, há apenas repetição.

Quando o registro se torna processo (e não tarefa)

Existem formas e formas de usar a técnica. Quando você entrega uma planilha para a paciente apenas preencher, ela entende como dever de casa. E talvez faça só para agradar. Mas quando você orienta com escuta, valida as dificuldades, compartilha sua própria experiência clínica com registros e ensina como olhar para o que está sendo registrado... o registro vira espelho. A paciente se vê com mais nitidez. E isso é transformador.

"Mas meu paciente não tem distorções tão evidentes..."

Justamente por isso o automonitoramento é tão importante. Muitos pacientes chegam com angústias difusas, comportamentos funcionais pela metade e uma sensação vaga de estarem "desconectados". Eles não precisam de um rótulo. Precisam de um mapa. E o automonitoramento oferece isso. Ele ajuda a: - Detectar padrões invisíveis (humor, pensamentos, rotinas) - Identificar gatilhos emocionais com maior precisão - Nomear estados internos sem depender de linguagem sofisticada - Fomentar senso de competência ao perceber progressos pequenos, mas reais

Mini-história: quando tudo muda com um caderno simples

A primeira vez que Ana preencheu um RPD, achou bobo. Estava em branco. Nada vinha. Mas na quarta sessão, algo mudou. Ela chegou dizendo: “Eu percebi que toda vez que recebo mensagem da minha irmã, sinto raiva antes mesmo de abrir.” Era o gatilho que nunca tinha sido nomeado. Era a primeira rachadura no padrão automático. Aos poucos, Ana começou a se ouvir. Com menos julgamento. Com mais curiosidade. E esse movimento — quase invisível — virou o motor da mudança.

Uma frase para nunca esquecer:

"Ninguém consegue mudar o que não consegue perceber." Essa é a frase de ancoragem deste texto. Ela resume o que o automonitoramento faz silenciosamente: devolver à paciente a chave da própria mudança.

Uma visualização: antes e depois do radar interno

Antes: A paciente entra na sessão dizendo que está “tudo bem”, mas sai chorando. Depois: Ela entra dizendo: “Eu percebi que fui ficando tensa toda vez que meu chefe elogiava outra pessoa.” Antes: Você tenta usar uma técnica, mas ela diz que “não conseguiu fazer”. Depois: Ela mostra um print do registro e diz: “Aqui eu vi a hora exata em que minha ansiedade subiu.” Esse é o tipo de mudança que não depende de mil planilhas. Depende de presença orientada.

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Bibliografia

KNAPP, P. H.; BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2003.

FALCONE, E. M. O.; OLIVEIRA, I. R. 101 técnicas da terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2012.

BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2013.

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